sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Menino Alado



A mãe o deixava em nossa casa,
Todo sábado, as dez e meia,
E ia a feira apressada,
As dez e meia, todos os sábados.

Nunca chorou aqui.
Ficava sob a árvore, no quintal
Batendo os pezinhos e bracinhos suspensos,
Sentado em seu carrinho azul...
E ria, como ria...
Para nós, de nós, nem sei...
Balançava-se tanto de alegria
Quer parecia querer voar

E quando ia, entre beijos e frutas
Chacoalhava a mãozinha e sorria, como que dizendo:
-Logo volto, logo é sábado!



Um dia, não veio mais
Foi longe, morar em Minas
Estava maiorzinho já
E vinha às vezes visitar a cidade
Os parentes todos, e a nós também
Continuava inquieto e lindo
Sorrindo a cada um de nossos gestos...



Em uma destas visitas
Na volta já, a Uberlândia
O carro não percebeu a curva na estrada

Estrondo!

Grito!

Dor!

Ele rompeu a janela do carro
Bateu no asfalto e, instantaneamente
Balançou os bracinhos, as perninhas
E alado, foi embora...
Colorido, e alegre...



TEMPO

As falenas e coccinelas batem em tua janela
Insistem... Insistem!
Imploram por teu olhar azul
Noctambulo, você nem se move
Percorro, como louca teu estúdio empoeirado:
vasculho quadros, tintas, tudo!
Procuro qualquer coisa que o tire da catatonia
Quando foi que roubaram tuas cores?
Quando, que não percebi?
As primaveras foram se sucedendo,
e não percebi, que apenas tua alma é pueril
Eu olhava em tua face avermelhada e
teus ares soltavam lufadas de Sol em meu rosto, em minha vida
Você me recebia com teus braços longos, abertos, tão abertos.
Cheirando a tinta, terra e flores.
Dançávamos, com Estela na varanda
E riamos, como riamos
Dos outros, de teus sapatos, de nós mesmos
E você fazia tantas coisas ao mesmo tempo!
Com tamanha fé e energia!
Como eu poderia imaginar?
Como saber que você envelheceria um dia?
Que poderia padecer como um qualquer?
Por que fingiu ser indestrutível?
Por que rodopiou comigo no jardim até um dia destes?
Agora, nem se move...
Teu corpo sobre a cama, é vazio
Os coiotes levaram para longe teu espírito...
tuas cores estapafúrdias
As falenas dançam para ti, agora em réquiem
E Vincenzo, você nem vê...


domingo, 20 de setembro de 2009

AMOR

O amo


E o amor

É pó

É pôr

A pedra

A nau

A perda

Ao caos

O amor,

[em si

É o horror

Cactos

Não sei falar,
de cactos e flores
e das cousas todas
que brotam cá dentro
sei falar de melancolia
ilusões e cousas tortas
de teus humores exaustos
de minhas dores impróprias

não sei falar,
de amores e skates
de beijos e taras
Nem de tua íris solta
sei falar de agonia
ilusões e cores mortas
de teus trejeitos intactos
de minhas cores amorfas


Sei falar do fogo que me ateou
Dos desejos amorais e belos
Que desperta com teu cheiro
Do rastro molhado que tua língua
deixa em minhas ancas, em meu corpo todo
Falo desta loucura que me invade
Dos gritos soturnos por tua boca candente.
Enquanto desperta, espero teu beijo.

Não sei falar de moda e times
Conceitos e prosas
Sobre tuas gírias parcas
Ou de minhas falas mortas
Sei falar de nostalgia
Aflições e outras troças
De teus sentidos exaustos
De nossas crises hipócritas.

Não sei falar
De sonhos e cores
humores e sortes
Ou de teus sentidos dóceis
Sei falar de rebeldia
Discussões e pouca sorte
De meus apelos incautos
De tuas falas tão torpes
Não devo, ou quero falar
De ética e fórmulas
Negligencia ou teus crimes
Quero só que da boca toda saiam
Lufadas de esplendido prazer
Que chispem tua pele intumescida
Num raio de concupiscência
Que de tuas mãos insurjam apenas
Gestos estreitos e desbocados
Sem nenhuma lógica,
Sem nenhuma métrica
Sem rima, enigma
Sem som, ou apego...
Só sensações, que desdirei

Não sei falar,
Um amor de mentira
Uma vida perfeita
Ou um riso aleivoso
Falo de nossos momentos
Nossas solidões inóspitas
Destes ares putrefatos
De minhas presas expostas

E todo o mais, sobre o que sei falar...calo...