Menino Alado
A mãe o deixava em nossa casa,
Todo sábado, as dez e meia,
E ia a feira apressada,
As dez e meia, todos os sábados.
Nunca chorou aqui.
Ficava sob a árvore, no quintal
Batendo os pezinhos e bracinhos suspensos,
Sentado em seu carrinho azul...
E ria, como ria...
Para nós, de nós, nem sei...
Balançava-se tanto de alegria
Quer parecia querer voar
E quando ia, entre beijos e frutas
Chacoalhava a mãozinha e sorria, como que dizendo:
-Logo volto, logo é sábado!
Um dia, não veio mais
Foi longe, morar em Minas
Estava maiorzinho já
E vinha às vezes visitar a cidade
Os parentes todos, e a nós também
Continuava inquieto e lindo
Sorrindo a cada um de nossos gestos...
Em uma destas visitas
Na volta já, a Uberlândia
O carro não percebeu a curva na estrada
Estrondo!
Grito!
Dor!
Ele rompeu a janela do carro
Bateu no asfalto e, instantaneamente
Balançou os bracinhos, as perninhas
E alado, foi embora...
Colorido, e alegre...