sexta-feira, 26 de março de 2010

- - TEMPO



As falenas e coccinelas batem em tua janela
Insistem... Insistem:
Imploram por teu olhar azul
Noctâmbulo, você nem se move
Percorro, como louca teu estúdio empoeirado e,
vasculho quadros, tintas, caixas
Procuro qualquer coisa que o tire da catatonia
Mas  tudo é inútil!


Quando foi que roubaram tuas cores?
Quando, que não percebi?
As primaveras foram se sucedendo,
e não percebi, que só tua alma é pueril
Eu olhava tua face avermelhada e
teus ares soltavam lufadas de Sol em meu rosto, em minha vida
Você me recebia com teus braços longos, abertos, tão abertos.
Cheirando a tinta, terra e flores.
Dançávamos, com Estela na varanda
E ríamos, como ríamos
Dos outros, de teus sapatos, de nós mesmos
E você fazia tantas coisas ao mesmo tempo
Com tamanha fé e energia!
Como eu poderia imaginar?
Como saber que você envelheceria um dia?
Que poderia padecer como um qualquer?

Por que fingiu ser indestrutível?
Por que rodopiou comigo no jardim até um dia destes?
Agora, nem se move...
Teu corpo sobre a cama, é vazio
Os coiotes levaram para longe teu espírito...
tuas cores estapafúrdias
As falenas dançam para ti, agora em réquiem
E Vincenzo, você nem vê...

quinta-feira, 11 de março de 2010

. . . Não sei se vou te amar




Estas vinte e quatro horas do dia,
Já não bastam a minhas vontades
Fico parada e nula
Esperando, o que não tem espera!
Não, nunca mais ficarei aqui estatelado
Eu vou andar nem que seja para o nada
Sentir o vento pelo vidro do carro
E cantar alto, bem alto,
Até a agonia sentir medo e sair de mim
E vou beber muita água
Até que não haja espaço nenhum para álcool,
Nem para que eu beba por estúpidas razões
Não me ferir, nem te ferir
Só porque nosso mundo esta ruindo
Não vou me partir em mil
Nem raptar um halo lunar para ornar teu cabelo
Vou embora, que é mais simples
Nem sei se vou te amar por toda a vida
Se minha vida acabar agora, sim!
Mas o tempo que não tem,
Somado ao tempo que preciso de ti
É tempo demais meu bem,
São anos luz para alcançar com teus passos
Estou indo para longe de teu colo,
De teu beijo quente
E você não sabe ainda?
Mas eu te digo, então:
Estou indo para longe, e talvez,
Isso nem seja tão triste para ti.
Meus sentidos todos, eram só teus
Minha alegria, minha alucinação
Meu desejo todo, e minhas ambições
Mas não quero vê-lo triste por isso
Se eu pudesse voltar no tempo
Não teria te carregado por meus caminhos
E sua vida seria melhor, sem meu toque?
Não teria te dado minhas cores, e meus jardins
E tua vida seria melhor seu meus fragrantes abraços?
Mas para apagar a tristeza de seu rosto,
Talvez eu tenha que partir
Se você quiser, eu vou
Mas guarde um beijo azul, num envelope
Sob teu travesseiro imaculado
Porque quando eu tiver partido,
Você vai precisar de amor,
Para apagar a tristeza da sua vida...


sexta-feira, 5 de março de 2010

Quando foi?

Quando foi
Que cravaram teu semblante em meu âmago,
e eternizaram este sentir?
Quando foi que vi você, ou não vi,
pois estava já gravado em minhas memórias mais multicores?
És, de minhas lembranças, a que não abandonarei.
És dos gostos, o que mais quero ter em meu corpo.
És o melhor entre os abraços quentes,
e todos os calores bons de sentir
És o beijo nas manhas frias,
E a lufada de ar, quando o sol levanta antes de nós.
És a mão que acaricia minha testa, e me acalma,
quando os sonhos ruins vêm rondar minhas noites...
A voz que me desperta pelo telefone nas manhãs...
O toque que quero ter quando anoitece.
As palavras de sensatez, que as vezes esqueço,
nos momentos ruins
O colo que nunca tive, e agora cobro,
como se tivesse sido meu, desde sempre.
Quem tem sempre a solução para um lamento meu.
Quem me faz rir quando quero esmurrá-lo
Quem me leva a beira do abismo e diz:
-Poderíamos pular agora,
Mas vamos tentar outra vez...


PIPAS



Os quadradinhos multicoloridos,
que avistávamos ao longe, no céu,
eram ligados a Terra, por linhas brancas,
nos carretéis das mãos dos moleques
Pareciam retalhos flutuantes
Vez ou outra, um caia, e vinha um bando de garotos,
descalços normalmente, guerrear.
E quando não conseguiam seus troféus,
estes eram despedaçados.
Entre tapas e xingamentos,
entre lágrimas e dizeres de mal querer.
Eu os via diariamente, no campinho do fim da rua.
...

Um dia, fomos surpreendidos com gritos ,
pedidos transtornados de socorro.
Nossa vizinha, D. Teca berrava como louca.
Tudo porque seu filho Lico,
pulara o portão de uma casa para recuperar uma pipa.
Embora seu pai Zé Preto, já tivesse dito, inúmeras vezes, que não o fizesse.
E zangara-se também, e dissera que ralharia com ele se insistisse.
E Lico, como dizia, neste dia insistiu:
...
Pulou o portão... descalço, errou o passo, tropeçou...
A lança do portão fincou-se sem dó em seu pescoço.
cortando o grito de vitória de Lico,
em dois gritos de dor tão agudos ,
que nunca vou esquecer.
Um era de Teca
o outro de Zé Preto

E no dia seguinte, não teve pipa.